O computador que eu uso exclusivamente para escrever é um MacBook Air de uns bons 18 anos. Eu digito e a linha demora uns 5 segundos para aparecer na tela. É tempo suficiente para me questionar até mesmo se eu escrevi alguma coisa. Quando as letras surgem, eu sigo para a outra frase. Tudo em branco e como um passo de mágica uma frase inteira se materializa na minha frente.
Aqui eu deveria inserir uma frase motivacional, como a lerdeza do meu computador me ensina a ser mais paciente, a medir as palavras, a ter mais calma, respirar e inspirar devagar. É claro que isso não acontece. Eu fico p*ta, se estamos na era da performance esse computador tem mais é que performar igual um trem-bala. Abro outra aba para procurar uma informação e aparece a mensagem clock error. O relógio está atrasado igual ao coelho da Alice. Meu computador ainda se encontra em 13 de dezembro, de 2023. Parou e por lá mesmo ficou. Mas eu estou em fevereiro de 2024, precisamos entrar em um consenso aqui…
Agora nesse novo parágrafo eu perco o fio da meada. Vocês não sabem quanto tempo demorou para fazer o upload dessa screenshot acima.
Participei de um workshop em public speaking, falar em público, essa semana no trabalho e gostaria de poder contar uma história de superação, em como ao final do dia eu dominei meu nervosismo e me tornei uma nova palestrante do TED, sinto dizer que não foi o caso. Na realidade quando eu precisava me levantar para falar na frente de uma sala cheia tinha a sensação de que teria um avc a qualquer momento. Me via desmaiando na frente de todos, sendo socorrida enquanto os bombeiros rasgavam a minha blusa e performavam (coisa que esse computador não faz) uma massagem cardíaca no meu peito. Ai você se pergunta "mas Branca você não já foi repórter televisiva?”.
São situações diferentes. Para a matéria de tv eu precisava conversar com as pessoas sem uma plateia assistindo, gravava um off depois e pronto, tá feito. Quando a matéria ia ao ar, e quem iria assistir ou quantas pessoas teriam acesso aquilo, não me preocupava. Falar em público e em tempo real é bem mais desafiador. O ator Jason Bateman, apresentador do podcast Smartless, começou a carreira criança e se diz aterrorizado em dar um simples discurso durante um jantar de amigos.
A necessidade de desempenhar e executar o tempo todo é exaustiva. Somos hiperconectados e precisamos estar em um estado permanente de euforia e felicidade, performando (nem meu computador tá dando conta mais). É preciso encontrar um meio termo entre a zona de conforto e a produção desenfreada.
Outro dia, em Janeiro, fui ao lançamento da coletânea em que participei com um conto sobre imigração (o livro pode ser comprado aqui). Foi um evento legal e bem cheio aqui em Toronto, mas para meu pânico precisei falar em público. Me levantei, contei rapidinho sobre o texto, a emoção de lançar um livro com outras imigrantes, etc, e lembro de falar que "quando colocamos a história no papel vira ficção” as pessoas riram, fui surpreendida com essa reação inesperada do público. Citando Lacan aqui, "você pode até saber o que disse, mas nunca o que outro escutou".
Aos poucos vou aprendendo a largar mão do controle de entregar a performance perfeita e apenas jogar as coisas ai pra quem quiser ver, ouvir e ler. Enquanto não me torno a próxima Bréne Brown, continuarei por aqui mesmo, letra após letra, na escrita.
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Vivemos em um mundo de imediatismo que afeta a maneira com que lidamos com o passado, o presente e o futuro. É preciso saber esperar, dar um tempo para a reflexão. Mas, às vezes, também é necessário obter um MacBook Air com chip M2, mesmo que para isso tenhamos que esperar...
Branca, parabéns pelo texto, pelo conto, pela performance! Amei também a cena do filme🌹