Você acorda antes do despertador tocar, bem antes, horas antes. O quarto está iluminado apenas pelo reflexo da luz dos postes na rua, lá fora apenas o silêncio e o escuro de uma noite fria, sem estrelas. Se levanta devagar, tenta pisar com leveza no chão, o cachorro nem se mexe, continua ressonando em sua ignorância. Bebe um copo de água gelada, um calafrio percorre o corpo morno recém saído das cobertas. A sala está vazia, mas sente uma presença inexplicável. Vai para o outro quarto e envia uma mensagem para alguém que está longe, muito longe. Não obtém resposta apesar de lá ser mais tarde, lá já está claro e a temperatura é sempre amena. Agora não possui opção a não ser esperar o tempo do outro sem criar circunstâncias irreais. Começa a ler um livro de ficção baseado em um crime verídico e acha que ouviu algo na sala, seriam passos?
Continua lendo, mesmo pensando na mensagem e em sua urgência, percorre a mesma linha cinco vezes sem conseguir absorver nada. A espera pode ser categorizada como um ruído na comunicação?
De acordo com a minha memória (fraca e seletiva) de estudante de jornalismo, os ruídos são elementos que interferem no processo de se transmitir uma mensagem, de quem passa para quem a recebe. Existem as barreiras pessoais, ambientais ou de linguagem. Também existem os tipos de ruído, por exemplo: você está no celular tentando ouvir seu marido, do outro lado da linha, ele está indo ao supermercado e quer saber se tem alho em casa, mas aí passa um carro de polícia com a sirene ligada e você não consegue escutar e diz “o que?!” meio gritando e então ele precisa repetir a pergunta e fica puto - o barulho é o ruído físico, de interferência externa.
Ou você está com a barriga oca, porque é mulher teve um dia agitado e estressante, pois não conseguiu parar em momento algum para beliscar algo e, de repente, uma situação simples se torna complicadíssima e você consegue sentir raiva até de um filhote de labrador - a fome é o ruído fisiológico, interno.
Então você acabou de almoçar com uma amiga e se encontra em um local silencioso, mas está ansiosa com a entrevista de trabalho amanhã. Sua amiga fala sobre o problema com aquele boy lixo que sempre some aos finais de semana e quer sua opinião, mas você não escuta nada porque está pensando que não se preparou o suficiente, e aquela síndrome de impostora vem à tona deixando as mãos suadas e a boca seca - esse é o psicológico, interno. O semântico é o mais complicado, pois existem interferências externas e internas, é o breakdown completo. Uma frase de Lacan surge na cabeça e fica “você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”.
Omitir informação também é um ruído?
As pessoas evitam falar a verdade por N motivos, para se esquivar de um problema, para poupar o outro, porque não querem falar e pronto. Mas omitir e depois transmitir/dizer no tempo que o emissor achou adequado gera consequências. A omissão se sobrepõe a mensagem? O ressentimento é maior do que seu conteúdo? O receptor pode e tem o direito de se sentir obtuso? Você olha o celular e nota que a mensagem foi entregue e lida. Resolve fazer um chá, enquanto o alvorecer chega lento. Silêncio também é resposta?
Por hoje é só…
Toda semana um textinho novo surge na sua caixa de entrada (o dia pode variar, por motivos de autora instável).
Que tal dividir esse conteúdo com os seus?
Excelente, Branca! 🌹
Gistei muito! Beijo